Harmonia

Que força por detrás
Do mar perfeito, da praia, da lonjura?
No lago calmo entre os montes e colinas
O que faz correr belo o rio na planura?
Porque se segura firme à terra a árvore poderosa?
Quem pinta o azul do céu e as cores do horizonte?
Como se conjugam plenamente a lua e as estrelas,
E o sol evolui preciso e previsível?
O que faz de mim um ser neste tempo, neste lugar?
Matéria viva, orgânica, visível,
Num mundo imenso real ou irreal,
Que energia portentosa e fecunda
Permite a Harmonia Universal?

Primavera !

Como fada adormecida
Desperta determinada
Com uma força escondida
Aquece a terra gelada

A seiva corre incessante
O sol embala a semente
É um despertar fulgurante
De toda a vida presente

E como num ritual
Cada ano tudo espera
Que uma energia vital
Anuncie a Primavera!

Inspiração

Porque não vens e me abandonas
Chamo por ti e não me ouves
Sem ti sou flor murcha e sem viço
Sem ti sinto-me nada!
Contigo o coração rebenta no meu peito
Contigo o mundo é um arco-íris
O ar é um sopro de emoção
Contigo os dias são luminosos,
Imortais !
Porque não vens,

INSPIRAÇÃO?

Guerra

Com mãos se faz a paz se faz a guerra.

Com mãos tudo se faz e se desfaz.

Com mãos se faz o poema – e são de terra.

Com mãos se faz a guerra – e são a paz.

Com mãos se rasga o mar. Com mãos se lavra.

Não são de pedras estas casas mas de mãos.

E estão no fruto e na palavras

mãos que são o canto e são as armas.

E cravam-se no Tempo como farpas

as mãos que vês nas coisas transformadas.

Folhas que vão no vento: verdes harpas.

De mãos é cada flor cada cidade.

Ninguém pode vencer estas espadas:

nas tuas mãos começa a liberdade.

Manuel Alegre, O Canto e as Armas, 1967

As estrelas

Com as estrelas tudo em mim se ilumina,
O coração expulsa as zonas mais sombrias,
Sinto um perfume suave na noite estrelada,
Todos os sons me embalam no reino do irreal.
Desejo que as estrelas brilhem eternamente
Para além da manhã clara!
São elas que me levam pra lá do horizonte,
Traçam caminhos de luz e de sonho
No seu traço longo e cadente…
As estrelas são meus guias, os meus sóis
Mágica luz, cintilando no infinito
Vou para onde me levam docemente
Na noite de veludo,
Sem um grito!

Uma novidade!

Sabem uma novidade?

Nasceu um lindo espaço,

Vão vê-lo, usufruí-lo

É terno e acolhedor,

Um ambiente tranquilo...

Podem lá colher flores

Não precisam de ir de véu!

Conversam e desabafam,

Meditam e até descansam,

Se forem ao "Céu da Céu"

Criar riqueza

Uma distracção aparente
Ou rígidos compromissos
De criar, criar riqueza
É estratégia de desenvolvimento
Deste mundo, actual…
Estamos cegos ou alheios
Ao real!
A riqueza essencial
Não são euros, não é ouro
Não é lucro, investimento,
Para um mundo sustentável
A riqueza são as gentes!
As pessoas, o tesouro!
O que temos de criar
É formação, educação
Trabalho, saúde e pão
Valor e Vida,
Que nos cabe promover,
E preservar!

Chuva

Cinzento e triste
corre um frio
que estremece
Chove e os olhos líquidos
humedecem
No ar, escapam ténues
os perfumes
de musgo e erva ...
Caminho alagado
silencioso
onde marcam firmes os meus passos.
Fecha-se em mim o sorriso,
Faz-me falta o azul,
O sol, mesmo indeciso!

OLHOS :))

Olhos que nos inundam
e nos preenchem os recantos!
Olhos que enchem a alma

De sorrisos e encantos!

Olhos fugídios, fugazes

instáveis, irrequietos

Parai a vossa voragem

Ficai comigo, abertos.

Olhos serenos, maduros
Onde a paz tem seu refúgio
Como é bom repousar neles
Escutar os seus murmúrios.

Olhos rasgados, viçosos
Com um brilho de ouro fino
Tão belos e tão formosos
Onde a Vida canta um Hino!